Em 2015, Robert De Niro estrelou a comédia “The Intern”, que no Brasil recebeu o nome de “Um Senhor Estagiário”. No filme, De Niro vive Ben Whittaker, um senhor aposentado e viúvo que, com o intuito de aproveitar melhor seu tempo e disposição, conquista uma vaga de estágio na startup de comércio on-line comandada por Jules Ostin, interpretada por Anne Hathaway.
Ainda que o conflito de gerações não seja exatamente o foco da história, ele surge em vários momentos rendendo cenas tão hilariantes quanto inspiradoras. As primeiras impressões que o Sr. Whittaker causa em seus novos e desconfiados colegas de trabalho – e inclusive na própria chefe, que também duvida de sua competência – podem até parecer engraçadas na telona (afinal, trata-se de uma comédia), mas será que fora dela também seriam motivo de riso?
A verdade é que preconceito nunca é engraçado. De nenhum tipo e em nenhuma situação. Ainda que motivado por “boas intenções” (argumento de muitos preconceituosos) e em circunstâncias aparentemente ingênuas, os efeitos que ele causa jamais passam despercebidos – principalmente por suas vítimas.
A prática no Brasil
Na Odontologia brasileira – que a cada semestre renova seu mercado com novas levas de profissionais na faixa dos vinte e é praticamente dominada por cirurgiões na casa dos trinta – pensar em senhores e senhoras com mais de 65 anos ainda trabalhando em seus consultórios pode causar certa estranheza.
Numa época em que tudo precisa ser novo, moderno e descolado para ser bom, faz sentido que os pacientes esperem que dentistas e TSBs, também o sejam. Mas desde quando idade virou garantia de um bom trabalho?
Para essa pergunta pode não haver uma resposta exata, mas para o preconceito que ela envolve, sim: em 1969, o médico gerontólogo e psiquiatra Robert Neil Butler utilizou pela primeira vez o termo “ageism”, que em tradução livre seria algo como “idadismo”. Na prática, representa o tipo de preconceito que utiliza a idade como fator discriminatório.
A realidade que supera expectativas
Lisa Newburger, colunista do portal norte-americano Modern Dental Network, relatou com sinceridade a própria experiência em um texto que discutiu o “idadismo”.
Ao chegar ao consultório de seu periodontista e se deparar com uma nova TSB, que visivelmente aparentava ter pelo menos o dobro da idade de sua antecessora, Lisa não conseguiu esconder a surpresa e precisou controlar sua reação.
Por sorte, a nova TSB – de nome Serena – tinha mais de 30 anos de experiência e isso, por mais paradoxal que possa parecer, acabou tranquilizando a paciente naquele momento. “Ela foi muito amável. Tomava notas e ouvia com atenção tudo o que eu relatava. Sim: fiquei receosa com o fato de ela ter mais de 60 anos, mas fui surpreendida pelo seu excelente trabalho”, escreveu Lisa.
Infelizmente, situações como a de Serena e a de Ben são muito comuns, e não é à toa que muitas empresas passaram a criar vagas exclusivas para maiores de 60 anos – e os frutos que elas estão colhendo, diga-se de passagem, não poderiam ser melhores.
A importância da experiência
Como escreveu Lisa em seu texto, “um profissional mais experiente traz consigo a maturidade e os anos de habilidades e conhecimentos necessários para entender o que o paciente precisa”. E se para os pacientes toda essa bagagem é positiva, é indiscutível que para os colegas de trabalho ela acaba sendo ainda mais.
O contato diário com um profissional de bagagem robusta enriquece a equipe e aprimora processos que os mais jovens às vezes não dominam muito bem justamente porque lhes falta experiência, exatamente o que sobra para os mais velhos.
O futuro da Odontologia e a reforma da previdência
Em tempos de reforma da previdência, tem-se ao menos uma certeza entre as inúmeras dúvidas que envolvem o tema: os mais experientes ficarão na ativa por mais tempo – em todas as áreas, inclusive na Odontologia. Com isso, possivelmente daqui a duas ou três décadas, o filme protagonizado por De Niro talvez perca um pouco sua graça, afinal, ter um colega de trabalho com mais de 70 anos na mesa ou no mocho ao lado será a regra e não a exceção.
O que jamais deixará de fazer sentido é a frase estampada no cartaz de lançamento do longa “The Intern”: “Experience never gets old”. É a pura verdade: a experiência nunca envelhece mesmo.
O que deverá (e precisará) envelhecer, felizmente, são alguns preconceitos.
Fonte: blog Dental Cremer