Existem muitos mitos em torno do tema saúde bucal, mas o assunto é mais preocupante quando se trata de como cuidar dos dentes da criançada. Isso porque um erro nessa fase da vida pode significar problemas futuros. Por isso, para não restar dúvidas, professoras de odontopediatria – área da odontologia que cuida de crianças – esclareceram questões sobre o tema para garantir um sorriso saudável aos pequenos.
Quando o nenê começa a ter dentes.
Por volta dos seis meses de idade ocorre a irrupção do primeiro dente na criança. “No entanto essa é uma média e algumas crianças podem ter um pouco de antecipação ou atraso nesse processo”, diz a dentista Adriana Lira Ortega, professora de Odontopediatria da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Odontologia da USP.
É necessário escovar os dentinhos do bebê.
Sim, sempre. O primeiro dente apareceu, já é momento de escovar. “Quando o dente está na cavidade bucal já pode ser colonizado por bactérias que causam a doença cárie e se a escovação e o controle da ingestão de carboidratos fermentáveis não acontecerem, a lesão de cárie irá surgir”, explica a dentista Sandra Kalil Bussadori, professora da APCD – Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas.
E se os dentes ainda não nasceram.
Quando ainda não há dentes e a criança realiza a amamentação com leite materno, não há a necessidade de limpeza constante com gaze, pois no leite materno encontram-se imunoglobulinas importantes para a proteção dos bebês contra infecções. Porém, a limpeza também não tem contraindicações e pode até servir como um estímulo à higiene. “Se a criança não tiver dentes, a higiene não deve ser feita logo após a amamentação, somente depois”, afirma Sandra.
E se o bebê não deixar escovar os dentes.
A criança chora em alguns casos, pois não quer parar de brincar para escovar os dentes, ou porque não têm o hábito de ter sua boca manipulada. Mas escovar os dentes não machuca, não dói. “A higiene oral é essencial para um bom desenvolvimento da saúde, assim como tomar banho e lavar as mãos”, ressalta Sandra. A dica é consultar o odontopediatra que ensinará técnicas corretas e adequadas a cada idade e transmitirá segurança aos pais para desenvolverem essa rotina.Para Adriana, o importante é que a mãe faça isso de forma tranquila, carinhosa, mas que não ceda à resistência da criança.
A pasta de dentes do bebê pode ter flúor.
Estudos recentes mostram que o importante não é excluir o flúor da pasta de dente, e sim instruir corretamente os pais quanto à quantidade de pasta que é colocada na escova. “Para os menores de 3 anos, a quantidade preconizada é do tamanho de um grão de arroz cru”, diz Bussadori. Ela lembra que a pasta deve ser mantida fora do alcance da criança, para evitar a ingestão.
O bebê sofre com o início da dentição.
O nascimento dos dentes causa uma pequena inflamação local, mas totalmente natural e fisiológica. Alguns bebês sentem mais, outros não apresentam sintomatologia alguma. “Coceira na região, vermelhidão e febre baixa são alguns desses sintomas, derivados dessa inflamação local”, afirma Sandra.
Bebês têm cáries.
Sim, claro. E acontece muito devido a crença que bebês não têm este problema. A partir do momento em que o dente fica exposto a restos de alimentos ele também fica exposto às bactérias que causam a cárie. O uso de mamadeiras/peito noturno sem higienização em seguida é o maior causador deste tipo de cárie, chamada de cárie precoce da infância, popularmente conhecida como cárie de mamadeira. Essas lesões começam com aparecimento de manchas brancas opacas, têm progressão rápida e severa e causam grande destruição e até perda dos dentes. “E devemos lembrar que crianças que têm dor de dente ou ausência destes, não se alimentam corretamente, logo não se desenvolvem adequadamente em todos os quesitos de saúde”, destaca Sandra. “Mesmo os bebês podem ter a polpa dentária atingida por bactéria com necessidade de tratamento endodôntico (tratamento de canal)”, diz Adriana.
Antibióticos prejudicam a dentição.
Isso é um mito. Antigamente, a tetraciclina – um antibiótico que era utilizado em crianças – manchava os dentes permanentes que estavam sendo formados. Hoje, essa medicação caiu em desuso. O grande problema das medicações em crianças é que elas são apresentadas normalmente em forma de xaropes ou soluções açucaradas, sejam eles analgésicos, anti-inflamatórios, antibióticos ou outros. “A higiene bucal deve ser realizada sempre após a administração de medicamentos”, recomenda Bussadori. Adriana aproveita para tranquilizar os pais. “O tempo que a criança fica exposta ao açúcar contido em antibióticos não seria suficiente para causar a cárie se a higiene estiver sendo correta”.
Mamadeira, chupeta e chupar o dedo entortam os dentinhos.
São vários fatores que podem entortar os dentes das crianças: uso de chupeta, mamadeiras e dedos, genética, respiração bucal, perdas precoces de dentes, entre outros. Mas, segundo Adriana, não é regra que toda criança tenha os dentes tortos por causa desses hábitos. No entanto é importante orientar os pais a removerem esse hábito na idade adequada. “O dedo é sempre prejudicial, pois a força utilizada na sucção é grande e sua eliminação é difícil, pois o dedo está sempre disponível”, alerta Sandra.
Existe uma mamadeira mais indicada para bebês que não podem ser amamentados no peito.
As mamadeiras devem ter os bicos achatados, com tamanhos adequados a cada idade do bebê. Algumas mães têm o hábito de aumentar o furo do bico da mamadeira, para que a criança mame mais rápido ou com menos esforço. Isso nunca deve ser feito. “O furo deve ser bem pequeno para que sirva de estímulo para a sucção”, diz Adriana.
Os mordedores ajudam na erupção dos dentes.
Embora não haja fortes evidências científicas a respeito, os mordedores podem ser úteis para aliviar a coceira proveniente da inflamação local gerada pelo irrompimento dos dentes. “Aqueles que podem ser colocados na geladeira, aliviam ainda mais essa sensação, gerando conforto para a criança”, indica Sandra.
O surgimento dos dentinhos faz o bebê babar mais.
“Alguns estudos recentes têm mostrado que realmente há uma associação entre aumento na salivação e a época de erupção dos primeiros dentes da criança”, diz a dentista Mariana Minatel Braga, professora de odontopediatria da Faculdade de Odontologia da USP. Segundo Bussadori, o irrompimento dos dentes coincide com a maturação das glândulas salivares, que passam a produzir mais saliva, se preparando para proteger os dentes e começar sua participação na mastigação. “Além disso, o bebê está começando a aprender a deglutir, acumulando saliva com mais facilidade”.
O bebê fica febril por causa do surgimento dos dentes.
“Um ligeiro aumento na temperatura da criança pode ocorrer durante a erupção dos dentes, mas não a ponto de podermos considerá-la como febre”, explica Mariana. A febre baixa pode ser consequência da inflamação local causada pelo dente que está irrompendo. “Já a febre alta deve ser investigada junto ao pediatra”, recomenda.
É comum o bebê ter diarreia quando os primeiros dentinhos começam a apontar.
Quando os dentes estão irrompendo, existe a inflamação local que gera coceira na região. Para aliviar, é comum o bebê “coçar” com objetos variados, brinquedos, comida ou o que encontrar pela frente. Ao introduzir objetos na cavidade oral, é comum adquirir infecções secundárias e as famosas viroses, o que vem a causar, paralelamente, diarreias e/ou febres altas.
Dar alimentos em pedaços para o bebê estimula a mastigação e faz com que os dentes nasçam mais rápido.
O estímulo mastigatório é sempre importante para o desenvolvimento da cavidade bucal. É importante lembrar que até os seis meses preconiza-se a amamentação exclusiva. Depois disso, a introdução das papinhas se inicia e, mais adiante, os alimentos em pedaços. Essa etapa dos alimentos em pedaços é essencial para um bom desenvolvimento da musculatura facial. A mastigação ainda favorece a salivação que ajuda na limpeza e estabilização do pH da cavidade bucal. “A mastigação também ajuda no adequado posicionamento dentário e vedamento labial. Já a época de irrompimento dos dentes é variada, dependendo de inúmeros fatores”, explica Sandra.
A criança pode se machucar com a escova de dentes.
Até os dois anos, a criança deve ser estimulada com a escova de dentes, mas os pais devem fazer a escovação, inclusive da língua. A partir dos três anos, com o nascimento dos molares, deve-se incluir o uso do fio dental. “Com sete anos, a criança já está apta a escovar os dentes sozinha, mas ainda deve ser supervisionada”, diz a dentista Márcia Vasconcelos, consultora científica da Associação Brasileira de Odontologia (ABO).
Os pais devem deixar os dentes de leite caírem naturalmente.
Para a psicóloga Cecília Zylberstajn, caso a criança reclame que o dentinho mole está atrapalhando para comer, por exemplo, não há problema nenhum em os pais ajudarem a tirar o dente, desde que todos estejam tranquilos e não tenham dúvidas. “Se os pais estiverem inseguros, é melhor levar para um profissional”, afirma Cecília. Para arrancar o dente de leite é preciso verificar se está mesmo na hora. Com um pedaço de gaze ou algodão, balance o dentinho e veja se está solto. Caso ele já esteja quase completamente solto da gengiva, basta dar uma puxadinha. Mas, se ainda estiver duro, espere mais um pouco. “Se a criança perguntar se vai doer, diga que pode doer um pouco, mas que logo passa e ela nem vai lembrar”. Depois que o dente cair, coloque um algodão, pressionando o local para interromper o sangramento.
Fonte – saude.terra.com.br